Festa da Rua Reta

Se houve lágrimas? Houve muitas lágrimas, que foram geradas pelos abraços, pelas lembranças, pelo desejo de tornar todo o passado presente.
Se houve abraços? Claro que sim, e foram muitos, saudosos, apertados, cheios de boa intenção, com um calor visto em poucas ou raras ocasiões, essa ocasião foi rara.
Se houve beijos? Incontáveis beijos, de homens em mulheres, de mulheres em mulheres, de homens em homens, mas todos eles foram de amigos em amigos.
Se houve dança de passinho? Muitas pessoas dançaram de passinhos, mas os passos foram na direção contrária do tempo, foram de encontro com o passado, onde o sorriso brotava com naturalidade, e nesses passos encontraram esse instante.
O que mais houve?
Houve tudo o que não há mais e havia de sobra. As pessoas se encontraram, se perdoaram, outras nem se olharam, outras se olharam sem saber quem avistavam, mas sabia que observava um amigo, um amigo da rua reta, logo, ele era do bem.
A musica ouvida o tempo todo, para quem nunca ouve o tempo que passou, nem os conselhos que foram dados, mas ela estava lá, pronta para ser servida, e degustada, e os amigos não se fizeram de rogado, e a usaram despudoradamente.
A rua reta, plana, soberana, nos colocando a seu véu prazer, se divertia com as passadas sobre ela, se sentindo plena, quando o vibrar dos corpos demonstrava que estávamos ali por ela. A rua, reta e constante, sabia que era a musa daquele espetáculo, e dona de todos os sentimentos. Mas ela, em sua imponência, se manteve lá calorosa, mágica, e nos recebendo como sempre fez.
Ela também estava com saudade.
Saudade das crianças que um dia habitaram seus metros lineares, das crianças que se sentiram seguras em sua calçada, das crianças que a tinham como um porto seguro e refúgio dos seus afazeres.
Crianças, que estavam lá hoje, sorridentes e seguras, nos braços dela, entregues. Todas crianças, lindas, sorridentes, como se hoje fosse há 30 e tantos anos atrás, só que ela, mesmo com o passar do tempo está lá esperando as crianças que suas primeiras crianças geraram.
E nós hoje, nos confundimos, sem saber se fomos crianças, ou não.
E a rua Reta? Não se importou, só nos recebeu com seus enormes e abertos braços retos.

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